quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O VELÓRIO DO TIO WILSON


Quando eu era guria lá no interior do Rio Grande do Sul,( e isso já faz algum tempo )tinha duas coisas que eu gostava muito. Uma eram os casórios na campanha ( zona rural) com a casa enfeitada pra receber os nubentes e a parentada,recepcionados  com gaita e violão e bóia à la farta e  outra quando morria um vivente e o velório era mais que um momento de encontro de gente que não se avistava de há muito, no causo, o morto era o que menos interessava, porque o que corria frouxo era a canha, a pastelama frita, a carne de porco picada, o café preto de chaleira, a roda de mate....
Na realidade o velório virava em festança, uma comemoração... e se bebia o morto até o momento do enterro. Vai daí que nessa engronga toda, a alteração tomava conta, a contação de anedotas arrancava gargalhadas e o defunto ali, bem quietinho, por certo lá do outro lado rindo junto com aquela junção de borrachos e pitadores ao redor do caixão.
Me lembro de alguns desses acontecidos, um deles o velório do Tio Wilson. A família mal  mal tinha contato porque o falecido desde guri havia se mandado à la cria por esse mundão de Deus.
Um dia  deu com os costados numa cidadezinha perto de Itaqui onde acabou virando artista de circo. Como era um tipo bem apessoado  e de fala mansa, chovia de mulher ao redor do moçoilo, mas ele  logo se afeiçoou à Rosinha que vendia pipoca antes da sessão começar e depois virava trapezista e com ela o Wilson fez par por um boa temporada.
Vez em quando ele aparecia na terra natal para um "buenas tarde" e um "até mais ver" e sumia por mais um eito de tempo.
Até que um dia chegou a notícia do passamento do Tio Wilson e o falecido junto. Então o alvoroto foi grandioso. As sobrinhas do Wilson se botaram de vaqueanas no cabo da fazedura de salgados   e o resto da parentada cada um chegando com um frasco lotado da água que  passarinho não bebe, algumas garrafas de gasosa e cirilinha, outros de guaraná crush para facilitar a descida dos fiambres.
E foi tanto o rebuliço que com a chegada de mais gente no acontecimento do dia, porque um velório no interior era motivo de destaque na cidade, que tiveram que arredar o morto prum lado e abrir a mesa farta aos sedentos e esfomeados que chegavam mais era para encher o bucho mesmo!
E o que não faltou foi muita risada, porque de  choro nem vela, necas de catibiribas  nessa bebemoração!
Até que chegou o tal carro fúnebre. Era  uma carruagem dessas  puxadas por cavalos que transportavam os caixões com os corpos dos falecidos até o local de seu sepultamento durante um cortejo fúnebre.
Foi aí que a cuerada se deu conta de que não era uma festança e sim um velório, e de pronto desfizeram o cenário e trocaram o riso fácil por uma expressão de tristeza e profundo sentimento.
E lá se foi o Tio Wilson desta vez não para sumir no mundo entre piruetas e acrobacias no picadeiro de um circo de borlantins e sim para o último salto do trapézio da vida agora para o céu dos artistas que com certeza há de ter sim  num mundo paralelo pelo menos para aqueles que acreditam que a vida continua pelas plagas de outras dimensões....

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O LUPANAR DA DIVA

O LUPANAR DA DIVA

Diva era dona de um cabaré logo ali na Volta da Cobra,... era gorda, farta de peitos, e cabelos loiros oxigenados, Usava roupas extravagantes e muito coloridas. Famosa nas Bandas de Belém Velho mantinha um plantel de moçoilas , daquelas que "fornecem vianda para fora" , pasto para os gaudérios que atavam seus cavalos no palanque na frente do rancho da famosa "percanta" em busca dos falsos carinhos do plantel de Diva ...
Quando guria lá pras bandas da fronteira  "se apaixonou-se" por um viajante, daqueles mascates que vendiam de um tudo, com a mala cheia de quinquilharias e uma prosa fácil de enganar bobo na casca do ovo.
Vai daí que perdeu a virgindade levada pela vendedor de bugigangas e expulsa de casa pelo pai severo foi dar com os costados na cidade grande levada por um desejo de se empregar de doméstica que era a única coisa que uma moça da época que "se perdia" poderia sonhar.
Já na rodoviária da capital foi laçada por um proxeneta daqueles que ficam só curingando quando chega uma desasada do interior e na conversa "lengalenguiada" foi criando a falsa ilusão de um trabalho em casa de uma dama onde a vida seria muito fácil....por isso chamam até hoje as mulheres da vida como sendo mulheres de vida fácil....
E a pobre Maria Angélica( era esse o seu nome verdadeiro) depois de prestar serviço em alguns bordéis da Voluntários  virou Diva - pois como era linda e conservava uma certa inocência foi muito requisitada até que conquistou à duras penas o seu espaço , escondendo os pilas nos mais recônditos lugares e quando ajuntou o suficiente, se bandeou para o Belém  Velho e montou um lupanar que se tornou famoso na época, e que não havia gaúcho que não passasse por ali, não apeasse do pingo e fosse molhar a garganta e aliviar o sobrecarrego das lides campeiras nos braços das mimosas de dona Diva.
Dizem que inspirou poetas e trovadores porque Diva , que aprendeu a valorizar o ofício, não fazia só comércio das queridas, e sim o cabaré era lugar de boêmios e seresteiros que lá buscavam inspiração para os seus versos.
Tanto ficou famosa que tinha até vários afilhados entre eles o Candoca que herdou o prostíbulo quando Diva se finou e foi prestar contas do outro lado do véu.
Mas daí já não tinha mais graça, não tinha o" aproach"( a sustância), o "feeling", isto é, o tino  da velha dama que marcou época com uma das casas de maior frequencia da "gauderiama".
Dizem que composições como "Percanterio","O tango do meretrício".  "Baile das Cabritas" Recuerdo da 28" , "O Boca braba"foram pensadas  lá .....entre um gole de canha e cantoria nas noites em que famoso cantor de voz forte e muito parecida com Nelson Gonçalves se aventurava a pontear uma guitarra ao lado dos amigos, só por fula !

BRINCANDO COM A MORTE

O Filomeno  era o Rei da mentira. No trabalho, em casa, pros amigos, não tinha um pingo de vergonha na cara, uma vez sim e outra não lasca...